A ÁGUIA E A GALINHA
“Mas os que esperam no SENHOR renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão” Is 40.31.
Gostaríamos de falar sobre a águia e a galinha. Essa mensagem é baseada sob o livro “Águia ou Galinha” de Leonardo Boff
I – Sobre a galinha
A galinha tem, segundo a ornitologia – ciência que estuda as aves, uma visão deficiente: seus olhos laterais não lhe permitem fixar ambos num mesmo alvo. Para pegar um grão ela inclina a cabeça porque o vê com apenas um dos olhos. Como galinhas, há cristãos que têm olhos laterais, que nunca olham simultaneamente na mesma direção - um olho está em Jesus e o outro no mundo. Um olho está no seu objetivo e o outro no objetivo do seu irmão. Um olho está na sua vida e o outro na vida do seu irmão.
Tais cristãos com visão de galinha são bem retratados pelo exemplo do filho pródigo (Lc 15.11-) Um olho estava no pai, o outro no mundo. Por isso o mundo o seduziu. Acabou por voltar cabisbaixo, maltrapilho, sem autoridade. Sua visão lateral tornou-o presa fácil do inimigo.
Deus não nos chamou para termos visão de galinha. A galinha só olha para os lados e para baixo! Nunca para o alto. Toda a sua expectativa está ligada ao chão. A galinha tem asas, mas não levanta vôo. Ela tem olhos, mão não visão definida. Tem bico, mas não ataca. Tem pés, porém não é ligeira. Tem garras, mas não se defende. O destino da galinha é ser caça. Seu mundo se resume num quintal. Quem, como uma galinha, tem olhar dispersivo ou vive olhando para o chão, jamais teve uma visão real de Jesus.
Estevão teve uma visão de Jesus, e seu rosto brilhou (Atos 6:15 e 7:55). Paulo, quando se deparou com Jesus, caiu prostrado ao chão (Atos 9:4). O apóstolo João ressalta: “quando o vi, caí a seus pés como morto...” (Ap 1:17). Jesus quer se revelar a nós para ampliar nossa visão para nos fazer ver além dos limites do “quintal” em que talvez você tenha vivido até agora. Deus nos habilitou a enxergar sem distração, sem dispersão. Deus não nos criou com olhos laterais. Não somos galinha; somos águia.
II – Sobre a Águia
1 – Todo ponto de vista é avista de um ponto
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os pés pisam.
Para entender como alguém lê, é necessário saber como são os seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde o pé pisa. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
Com estes pressupostos vamos contar a história de uma águia, criada como galinha.
Essa história será contada e compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um ouvirá conforme forem seus ouvidos. Compreenderá e interpretará conforme for o chão que seus pés pisam.
Desejamos que a águia sepultada em você desperte e voe, ganhando altura e ampliando os horizontes da sua vida, da compreensão de você mesmo e do mundo.
2 – James Aggrey
Era uma vez um político, também educador popular, chamado James Aggrey. Ele era natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Até agora, talvez, um ilustre desconhecido. Mas, certa feita, contou uma história tão bonita que, com certeza, já circulou pelo mundo, tornando seu autor e sua narração inesquecíveis.
3 – Gana
Gana está situada no Golfo da Guiné, entre a Costa do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do século IV.
Gana alcançou o apogeu entre 700 e 1200 de nossa era. Naquela época havia tanto ouro que até os cães de raça usavam coleiras e adornos com esse precioso metal.
No século XVI Gana foi feita colônia pelos portugueses. E por causa do ouro abundante chamaram-na de Costa do Ouro. Outros, como os traficantes de escravos, denominavam-na também de Costa da Mina.
No século XVIII, época do chamado ciclo da Costa da Mina, vieram dessa região, especialmente para a Bahia - Brasil, cerca de 350 mil escravos. Os escravos eram negociados pelos portugueses em troca de fumo de terceira. Refugado por Lisboa, esse fumo era muito apreciado na áfrica por causa de seu perfume.
A maioria dos escravos das plantações de cana-de-açúcar nos Estados Unidos veio também da região de Gana.
O pretexto de combater a exportação de escravos para as Américas, a Inglaterra se apoderou desta colônia portuguesa. De início, em 1874, ocupou a costa e, em seguida, em 1895, invadiu todo o território. Gana perdeu assim a liberdade, tornando-se apenas mais uma colônia inglesa.
4 – A libertação começa na consciência
Todavia, a população ganense sempre alimentou forte consciência de sua história e muito orgulho da nobreza de suas tradições religiosas e culturais. Em conseqüência, foi constante sua oposição a todo tipo de colonização. James Aggrey, considerado um dos precursores do nacionalismo africano e do moderno pan-africanismo, fortaleceu significativamente esse sentimento.
Ele teve grande relevância política como educador de seu povo. Para libertar o país – pensava ele à semelhança de Paulo Freire – “precisamos, antes de tudo, libertar a consciência do povo. Ela vem sendo escravizada por idéias e valores antipopulares, introjetados pelos colonizadores”.
Com efeito, os colonizadores, para ocultar a violência de sua conquista, impiedosamente desmoralizavam os colonizados. Afirmavam, por exemplo, que os habitantes da Costa do Ouro e toda a áfrica eram seres inferiores, incultos e bárbaros. Por isso mesmo deviam ser colonizados. De outra forma, jamais seriam civilizados e inseridos na dimensão do espírito universal.
Os ingleses reproduziam tais difamações em livros. Difundiam-nas nas escolas. E propalavam-nas em todos os atos oficiais.
O martelamento era tanto que muitos ganeses acabaram hospedando dentro de si essas idéias e preconceitos. Acreditavam que de fato nada valiam. Que eram realmente bárbaros, suas línguas, rudes, suas tradições, ridículas, sua história sem heróis autênticos, todos efetivamente ignorantes e bárbaros.
Pelo fato de serem diferentes dos brancos, e dos europeus, foram tratados com desigualdade, discriminados. A diferença de raça, de cultura não foi vista pelos colonizadores como riqueza humana. Grande equívoco: a diferença foi considerada como inferioridade!
Processo semelhante vem ocorrendo na mente de algumas pessoas, de algumas igrejas, de alguns crentes.
Infelizmente, satanás tem procurado colocar dentro da mente de alguns indivíduos que eles não valem nada, que não tem mais saída, não tem mais jeito. Que o melhor é deixar e ficar como está e assim está muito bom.
5 – A morte de James Aggrey
James Aggrey incentivava em seus compatriotas ganenses tais sentimentos de solidariedade essencial e crescimento. Infelizmente não pôde ver a libertação de seu povo. Morreu antes, em 1927. Mas semeou sonhos.
A libertação veio com Kwame N´Krumah, uma geração após. Esse aprendeu a lição libertária de Aggrey. Apesar da vigilância inglesa, conseguiu organizar em 1949 um partido de libertação, chamado de Partido de Convenção do Povo.
N´Krumah e seu partido pressionaram de tal maneira a administração colonial inglesa, que o Governo de Londres se viu obrigado, em 1952, a fazê-lo primeiro-ministro. Em seu discurso de posse surpreendeu a todos ao proclamar: “Sou cristão”.
Obteve a sua maior vitória no dia 6 de março de 1957 quando presidiu a proclamação da independência da Costa do Ouro. Agora o país voltou ao antigo nome: Gana. Foi a primeira colônia africana a conquistar a sua independência.
6 – Nós somos águias
Vamos, finalmente, contar a história narrada por James Aggrey.
O contexto é o seguinte: em meados de 1925, James havia participado de uma reunião de lideranças populares na qual se discutiam os caminhos da libertação do domínio colonial inglês. As opiniões se dividiam.
Alguns queriam o caminho armado. Outros, o caminho da organização política do povo. Outros se conformavam com a colonização à qual toda a áfrica estava submetida. E havia também aqueles que se deixavam seduzir pela retórica dos ingleses. Eram favoráveis à presença inglesa como forma de modernização e de inserção no grande mundo tido como civilizado e moderno.
James Aggrey, como fino educador, acompanhava atentamente cada intervenção. Num dado momento, porém, viu que líderes importantes apoiavam a causa inglesa. Faziam letra morta de toda a história passada e renunciavam aos sonhos de libertação. Ergueu então a mão e pediu a palavra. Com grande calma, própria de um sábio, e com certa solenidade, contou a seguinte história:
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros”.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou: Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! Não, tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:
Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: Eu lhe havia dito, ela virou galinha! Não, respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...”
E Aggrey terminou conclamando:
Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda achamos que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar. Somos águia e não galinha
CONCLUSÃO.
Ainda que satanás tenha tentado nos aprisionar e tentado nos transformar em galinhas temos em nós asas de águia, coração de água e espírito de água. Deus, nesta noite, pelo seu Espírito Santo nos leva as alturas e nos fará ver o sol "Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria." (Malaquias 4 : 2). Somos águia e não galinha. Deus nesta noite nos diz: “Voe águia!.”
Glória seja dada ao Criador e Redentor da minha vida, Deus me deu por herança, seu filho, sou Águia, guiado por Deus.
ResponderExcluirDeus seja louvado eternamente, e te abençoe junto com a sua descendência.
Osias Lacerda.